«'Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou pouco mais. Mas como Ele já os não pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exactamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabes porque é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem, é apenas obra de homens... Que o que os homens fazem, é feito por mãos iguais, mãos de pessoas que se tiverem juízo sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem Pretos.'
Depois de dizer isto tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.
Quando fugi para o quintal, para jogar à bola, ia a pensar que nunca tinha visto uma pessoa chorar tanto sem que ninguém lhe tivesse batido.»
Luís Bernardo Honwana, Nós Matámos o Cão Tinhoso, Afrontamento, página 113
8 comentários:
Lindo:)
Só tu para me fazeres sorrir com este texto!
Um beijo bem grande
triste mas verdade, como as verdades que mais doem por serem simplemente verdades.
não tem nada a ver mas no sábado fui a um restaurante cabo verdiano nos restauradores era fixe irmos lá todos juntos, tem pratos africanos optimos sei q ias amar:)
numa conferencia q fui sobre tradução falaram sobre este livro, uma conferencista espanhola.
fiquei sempre c curiosidade. pode ser q um dia ainda veja aki coisas do mia couto já q tu cada x mais pareces deliciar-te c as pérolas vindas da terra dos pretos. dos pretos que eu amo de paixão e das poesia quente, da terra da cachupa e da moamba q me faz lamber os dedos de tão boa que é.
sabes q sempre fui uma apaixonada por africa e cada x q tu deixas cá qq coisa de lá morro de vontade de lá ir um dia.
Nunca li nada do Mia Couto, acreditas? :-) Mas olha, podiamos fazer um intercâmbio: se quiseres empresto-te o Nós Matámos o Cão Tinhoso e se tivesses algum livro do Mia emprestavas-me, que dizes?
:-)
Beijinho* para as duas
Lindo, Joana! Lembrei-me de "Ética para um Jovem", de Savater.
Um beijo
Levo-te 4a feira:) beijão.
Ainda só li excertos da 'Ética para um Jovem'... mais um livro para a infindável lista dos que quero ler! :-)
whyme, às vezes vejo o mundo tão negro que tenho dificuldade em continuar a concordar com as posições de Savater. Mas logo a seguir ele desarma-me. Contra o absoluto pessimismo que é uma forma de fuga. Um livro excelente, é mesmo!
Acho então que estou a precisar de o ler :-)
Talvez seja a minha aquisição na 'benefeira do livro' ehehehhe
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