quinta-feira, abril 26, 2007

Renouveau

Le printemps maladif a chassé tristement
L'hiver, saison de l'art serein, l'hiver lucide,
Et dans mon être à qui le sang morne préside
L'impuissance s'étire en un long bâillement.

Des crépuscules blancs tiédissent sous le crâne
Qu'un cercle de fer serre ainsi qu'un vieux tombeau,
Et, triste, j'erre après un rêve vague et beau,
Par les champs où la sève immense se pavane

Puis je tombe énervé de parfums d'arbres, las,
Et creusant de ma face une fosse à ce rêve,
Mordant la terre chaude où poussent les lilas,

J'attends, en m'abîmant que mon ennui s'élève...
Cependant l'azur rit sur la haie et l'éveil
De tant d'oiseaux en fleur gazouillant au soleil.


Stéphane Mallarmé,1866
****

Doentia, a primavera expulsou tristemente
O inverno, a estação da arte calma, o lúcido
Inverno, e este meu ser que um sangue morno inunda
De impotência se estira em um bocejo lento.

O meu crânio amolece em crepúsculos brancos
Sob o ferro em tenaz, como um túmulo antigo,
E eu, trsite, eis-me a errar pelos campos seguindo
Um sonho belo e vago, entre a seiva estuante,

Depois cedo ao odor das árvores, cansado,
Com a face a cavar uma fossa ao meu sonho,
E mordendo os torrões onde crescem lilases,

Aguardo, a abismar-me, o meu tédio a evolar-se...
- Entretanto o Azul, sobre a sebe e o alvor,
Ri das aves em flor ao sol a chilrear.

Tradução de José Augusto Seabra

Stéphane Mallarmé, Poesias, Assírio e Alvim, páginas 48 e 49

3 comentários:

Dimitrino disse...

Bom, eu leio poesia em francês ou inglês sem problema, mas....não gosto mesmo de poesia traduzida! Já pensou o que daria uma daquelas curtas do "nosso" Pessoa noutra lingua? Os franceses tentaram, mas é intragável.....

whyme disse...

Também prefiro, sempre que posso e consigo, ler os originais, mas isso não me impede de reconhecer o valor e trabalho de uma boa tradução.Há traduções muito más mas também há outras muito boas. No caso deste poema resolvi pôr a tradução e o original para ajudar, quem não domina o francês, a perceber a mensagem :-)

R.Joanna disse...

Porque mesmo assim, e nunca deixarei de dizer, a excelência de outrém deveria antes ser substituida pela sua própria :)
Em francês se preciso! Que a mensagem passa sempre, os sentimentos também estão na forma ;)