domingo, janeiro 04, 2009

A nossa vez

É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar

e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera

e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer

a nossa vez.


Rui Pires Cabral , tirado daqui (Obrigada, Pedro)

1 comentário:

groze disse...

Foi realmente através de lá que conheci o Rui Pires Cabral e, se comprei um dos seus livros, a essa fortuita descoberta se deve. Já tinha, inclusivamente, colocado um poema dele no awkward world, há uns tempos atrás. Fico feliz que tenhas gostado de encontrar alguma coisa por lá!