É o frio que nos tolhe ao domingo
no Inverno, quando mais rareia
a esperança. São certas fixações
da consciência, coisas que andam
pela casa à procura de um lugar
e entram clandestinas no poema.
São os envelopes da companhia
da água, a faca suja de manteiga
na toalha, esse trilho que deixamos
atrás de nós e se decifra sem esforço
nem proveito. É a espera
e a demora. São as ruas sossegadas
à hora do telejornal e os talheres
da vizinhança a retinir. É a deriva
nocturna da memória: é o medo
de termos perdido sem querer
a nossa vez.
Rui Pires Cabral , tirado daqui (Obrigada, Pedro)
1 comentário:
Foi realmente através de lá que conheci o Rui Pires Cabral e, se comprei um dos seus livros, a essa fortuita descoberta se deve. Já tinha, inclusivamente, colocado um poema dele no awkward world, há uns tempos atrás. Fico feliz que tenhas gostado de encontrar alguma coisa por lá!
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